Artigo: Morcegos, Pangolins e o Comércio Internacional
Orlando Monteiro da Silva*
A preocupação mundial do momento é com o novo coronavirus, batizado de COVID_19. Ele pode causar infecções respiratórias graves e insuficiência renal que levam à morte, sendo um grande problema para a saúde pública, pela facilidade de transmissão entre humanos.
Existem evidências de que esse vírus cuja cepa surgiu na cidade de Wuhan, da província chinesa de Hubei, originou-se de morcegos. Os morcegos podem carregar diferentes vírus, sem apresentar sintomas e transmiti-los diretamente aos humanos, se forem comidos, ou a outros animais. Outros casos de doenças causadas pelo coronavirus foram os da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), em 2002, que surgiu, também na China, tendo como hospedeiro intermediário um gato silvestre (civete) e o da Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS), em 2012, quando o hospedeiro intermediário foi o camelo. Dessa vez o indicado como hospedeiro foi o Pangolim, um tatú de escamas, muito apreciado como iguaria, cujas escamas atribuem-se efeitos medicinais. A sequência do genoma do COVID-19 encontrado nos pangolins indicou similaridade de 99% com a sequência do surto nos humanos.
Independente se o COVID-19 foi transmitido diretamente pelos morcegos ou, indiretamente pelo pangolin ou qualquer outro animal silvestre, o que importa são as consequências advindas desse novo surto infeccioso. Já são contabilizadas centenas de mortes na China e um medo generalizado de que se torne uma pandemia mundial.
Efeitos econômicos imediatos foram sentidos com quedas nos índices de todas as bolsas de valores do mundo. À medida que informações foram surgindo de que o comportamento da doença é similar ao das anteriores, houve alguma recuperação, mas os efeitos no comércio internacional ainda se fazem sentir e devem perdurar. O comércio internacional inclui a troca de produtos, serviços e fatores de produção entre os países, aumentando a interdependência e a renda dos parceiros comerciais. Essa interdependência aumenta a renda mundial, mas também torna produtores e consumidores mais vulneráveis à quebra dos padrões normais de comércio. Ao isolar 11 milhões de pessoas em Wuhan e cortar o acesso de entrada e saída da província de Hubei, um grande choque ocorreu na produção e comércio locais e mundial. Centenas de grandes fábricas foram paralisadas, deixando de utilizar insumos e componentes importados de outros países, assim como peças e componentes ali produzidos deixaram de ser exportados, afetando a produção e a renda de outros países. Os serviços de transporte foram cortados e milhões de consumidores dali e de outros países tiveram suas oportunidades de produção e consumo reduzidas. Reduzidas, também, estão as viagens de turismo de negócios e de lazer. Os preços das commodities minerais e da energia (petróleo e gas) caíram no mercado internacional pela redução na demanda. Apesar da dificuldade em quantificar tais efeitos, pode-se inferir que eles serão relevantes, pois a economia chinesa tem uma participação em torno de 15% de tudo que é produzido no mundo. A magnitude das quedas da renda regional e do comércio mundial vai depender da transmissão da doença e variarão dependendo do tempo em que o COVID-19 estiver fora de controle.
*Professor Titular da UFV.
Mestrado em 1979 pela UFV e Doutorado em 1990 pela North Carolina State University. Atua em barreiras não alfandegárias e comércio internacional, demanda e interdependência de mercados, métodos quantitativos em economia e comércio internacional de commodities agrícolas.