Opinião Orlando Silva – Plásticos: Poluição e Comércio Internacional
Orlando Monteiro da Silva*
A poluição por plásticos é um grande desafio a ser enfrentado ao nível global e cuja preocupação tem crescido enormemente nos últimos anos. Contribuiu muito para isso alertas de organizações ambientalistas e o visual frequentemente mostrado nos programas de televisão e na internet, sobre o “vazamento” dos plásticos para os rios os oceanos. Há uma estimativa (BOUCHER e FRIOT, 2017) de que 5,2 trilhões de partes de plástico estão flutuando nos oceanos. Uma ilha de lixo flutuante (98%), entre a costa da Califórnia e o Havaí, nos Estados Unidos, tem cerca de três vezes o tamanho da França. Além das grandes partes, das sacolas e garrafas plásticas, o alerta maior tem sido sobre as partes muito pequenas, conhecidas como microplásticos. Elas são originárias da quebra dos plásticos maiores, da lavagem dos tecidos sintéticos, do desgaste dos pneus e da erosão dos revestimentos de tintas, sendo extremamente danosas à biodiversidade, aos ecossistemas, a vida selvagem, à pesca e à saúde humana.
A explicação para essa poluição e o seu vazamento para o meio ambiente tem recaído sobre a incapacidade dos governos, em todos os seus níveis, em coletar e separar os resíduos plásticos, reciclar e reutilizá-los com segurança. A maior parte deles vai para aterros sanitários mal administrados, é incinerada produzindo emissões tóxicas, ou acaba poluindo diretamente os campos, ruas, rios e oceanos. Muitos países e, especialmente, os “em desenvolvimento”, enfrentam redes de esgoto entupidas, cursos d’água bloqueados e, poluição do solo e do ar. Além do mais, toda a cadeia dos plásticos, desde a exploração dos combustíveis fósseis, base da sua produção, passando pelo transporte e transformação para o consumo final, até sua reciclagem (quando é o caso), é responsável por emissões significativas de gases do efeito estufa.
A economia dos plásticos é extremamente globalizada e os países em desenvolvimento têm importância capital em todo o processo, por serem os maiores produtores e fornecedores de matérias-primas, maiores consumidores e, o principal destino das exportações de resíduos plásticos. Segundo a WTO (2020), a participação dos países desenvolvidos na produção global de plásticos caiu de 52,5% para 39%. O consumo anual na América do Norte e na Europa é de 137 kg/ per capita, enquanto nos países em desenvolvimento é de 27 kg, mas com uma população muito maior. Os resíduos plásticos têm como maiores exportadores os países de alta renda (Alemanha, Estados Unidos, Japão, entre outros), com exceção da China, México, Tailândia, Filipinas e Indonésia. Do lado importador, 75% desses resíduos se destinam aos países em desenvolvimento. É essa abrangência geográfica da cadeia dos plásticos e sua relevância econômica, ambiental e para a saúde humana, que torna o comércio internacional ator imprescindível nas discussões sobre a poluição por plásticos.
* Professor colaborador/voluntário da UFV. Mestrado em 1979 pela UFV e Doutorado em 1990 pela North Carolina State University. Atua em barreiras não alfandegárias e comércio internacional, demanda e interdependência de mercados, métodos quantitativos em economia e comércio internacional de commodities agrícolas.