Dissertação expõe gargalos no conhecimento de pequenos produtores sobre uso de agrotóxicos 

O acesso à informação e os cuidados adotados no uso de agrotóxicos por agricultores familiares são o tema central da dissertação defendida pela mestre em Defesa Sanitária Vegetal Sandra Almeida da Silva. Orientada pelo professor Evaldo Ferreira Vilela, Sandra apresenta um levantamento sobre as informações e as práticas comuns dos produtores do município de Buritis, em Rondônia, expondo os riscos aos quais podem estar potencialmente submetidos os consumidores deste tipo de produto e o próprio meio ambiente.  

Para fazer o mapeamento, Sandra entrevistou 50 produtores familiares da cidade de Buritis – metade deles abastece o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e a outra metade comercializa seus produtos na Feira do Produtor e no Centro Comercial de Buritis. “As perguntas tratavam das suas práticas de controle de pragas, se faziam manejo integrado, e várias outras questões para medir o conhecimento sobre o uso do agrotóxico – como uso de EPIs, período de carência ou intervalo de segurança, receituário agronômico, transporte e armazenamento e devolução de embalagens vazias. A entrevista revelou que eles têm pouco conhecimento sobre a adoção das boas práticas para uso de agrotóxicos, embora usem quantidade significativa deles na produção”, conta Sandra. 

Durante as entrevistas, a pesquisadora ouviu diversos relatos de produtores que já haviam sido pessoalmente intoxicados por adotarem práticas insuficientes de proteção para preparo de calda e aplicação do produto, entre outros erros relacionados ao melhor horário e à direção do vento no momento da aplicação. “A maioria dos produtores revelou ter tido problema de intoxicação também por não conhecer o período de reentrada na lavoura após aplicação do produto e não usar o EPI completo para preparar a calda ou para aplicação, por achar a vestimenta muito quente, por exemplo.”   

Para Sandra, os resultados evidenciam o desafio que temos pela frente, em todo o país, no que diz respeito à agricultura familiar. “Hoje em dia, fala-se muito em segurança alimentar, e associamos essa ideia à agricultura familiar, cujas vertentes são a sustentabilidade, uma produção mais limpa. Mas, na prática, não temos essa segurança, exatamente por causa da carência de Assistência Técnica no dia a dia. Temos evidenciados esforços para oferecer alimento seguro na nossa mesa, ou às nossas crianças, por exemplo, mas nem sempre esse é o caso”.  

A pesquisa foi realizada no município de 27 mil habitantes que, para a pesquisadora, representa bem a realidade de toda a região. “Temos municípios aqui com as mesmas características. A gente ainda tem muita coisa por fazer. Nosso sistema é muito assertivo nas legislações de agrotóxicos, porém as fiscalizações precisam ser aprimoradas para esse caso em específico. É notável que as governanças não têm oferecido apoio necessário, com Assistência Técnica contínua para essa cadeia produtiva dos horticultores familiares. Essa realidade de Buritis certamente representa o estado de Rondônia todo”, diz Sandra, que atua no Serviço de Defesa Agropecuária do Estado de Rondônia, como Assistente Estadual de Fiscalização Agropecuária e como educadora sanitária.