O comércio de sementes de capim: um grande problema

Orlando Monteiro da Silva*

O Brasil é o principal produtor, consumidor e exportador de sementes de forrageiras tropicais. Segundo a Embrapa, atualmente, entre 80 e 90% da área de pastagens cultivadas no país são constituídas por capim braquiária. O capim braquiária é de origem africana (Zaire e Quênia), tendo sido introduzido no Brasil nos anos 60. Dissertação apresentada no programa de Mestrado Profissional em Defesa Sanitária Vegetal, da Universidade Federal de Viçosa, traz, contudo, informações preocupantes sobre o comércio do capim braquiária. No estudo**, a Engenheira Agrônoma Adriana Aparecida dos Santos, técnica da Agência de Defesa Agropecuária do Estado de Rondônia (IDARON) fez uma avaliação da ocorrência de sementes de outras espécies em lotes comerciais de sementes do capim braquiária (Urochloa), entre os anos de 2020 e 2023, importadas de outros estados. Foram avaliados 293 lotes coletados por fiscais do IDARON em estabelecimentos comerciais do estado de Rondônia, utilizando os boletins de análise emitidos por laboratórios oficiais do Ministério da Agricultura.

A análise dos lotes indicou diferentes espécies forrageiras do gênero Urochloa (80% da espécie Brizhanta) e, em alguns casos, misturas de outras espécies, mas dentro dos limites autorizados pelo MAPA. O que chamou a atenção foi a baixa qualidade física das sementes, com reprovação de 58% das amostras. Dentre essas, 78% foram consideradas fraudadas, com ocorrência de “outras sementes” muito acima dos limites normatizados. Outras espécies cultivadas foram encontradas em 34 amostras, se afastando em até 800% do padrão mínimo tolerado. Foram encontradas, também, sementes silvestres com variações de 33 a 153% acima do limite tolerado. Em 22 lotes, sementes nocivas, que estão limitadas a 50, chegaram a atingir 400% acima desse limite.  Esses resultados são muito preocupantes, pois a baixa qualidade dos lotes deve se repetir em outros estados e contribuir para a difusão de pragas entre eles. O estado de Rondônia, certamente, já foi infestado por ervas daninhas de outras origens, que competem pela água e nutrientes, reduzindo a produtividade e aumentando os custos da implantação e reforma das pastagens.

Torna-se muito importante a fiscalização e implementação de medidas para coibir a utilização de sementes que sejam difusoras de espécies indesejadas. Isso é um grande desafio, pois, de maneira geral, os custos de uma fiscalização eficiente são muito altos, enquanto os valores das multas aplicadas pelas ilegalidades são muito baixos. Cabe aos governos estabelecer e manter uma forte proteção legal ao setor, por meio de leis e regulamentos que permitam a aplicação efetiva das normas de certificação e rastreabilidade, para garantir a autenticidade e a alta qualidade das sementes. Os produtores e agricultores devem ser conscientizados sobre os riscos associados à utilização de sementes de baixa qualidade, educando-os sobre como identificar e comprar sementes legais e de alta qualidade.

* Professor colaborador/voluntário da UFV. Mestrado em 1979 pela UFV e Doutorado em 1990 pela North Carolina State University. Atua em barreiras não alfandegárias e comércio internacional, demanda e interdependência de mercados, métodos quantitativos em economia e comércio internacional de commodities agrícolas.

** Santos, A.A.. Ocorrência de sementes de outras espécies em lotes comerciais do gênero Urochloa fiscalizados em Rondônia. Dissertação, Mestrado Profissional em Defesa Sanitária Vegetal, UFV. 2024