Pesquisa mapeia risco de entrada da Murcha por Fusarium da bananeira no Vale do Ribeira
Uma pesquisa concluída em fevereiro pela mestre em Defesa Sanitária e Vegetal Ana Paula de Souza Lima mapeia pela primeira vez os riscos de introdução e dispersão da Murcha por Fusarium da bananeira no estado de São Paulo. O trabalho foi desenvolvido por Ana Paula com orientação do professor Emerson Del Ponte, coordenador do Mestrado Professional em Defesa Sanitária e Vegetal da UFV, e co-orientação de Miguel Dita Rodriguez, da Earth University, na Costa Rica. Juntos, eles criaram uma metodologia para medir o risco de entrada e dispersão, considerando fatores como localização, práticas de biossegurança e condição fitossanitária das fazendas. O levantamento foi feito na região do Vale do Ribeira, que produz cerca de 70% da banana do estado de São Paulo.
A raça 4 da Murcha por Fusarium, considerada a versão mais agressiva da doença que ataca os bananais, ainda não foi encontrada no Brasil. Ela está, porém, em três países vizinhos: Colômbia, Peru e Venezuela. Essa proximidade vem chamando a atenção das autoridades, diante do elevado risco de introdução. “Especialmente quando chegou na Venezuela, o risco ficou mais evidente por causa do trânsito grande de pessoas, em uma fronteira seca. A gente sabe, portanto, do risco de chegar aos bananais, mas isso não era medido. Nosso objetivo, com esse trabalho, era estabelecer esse risco”, conta Ana Paula, que atua como assistente agropecuária na Coordenadoria de Defesa Agropecuária do Estado de São Paulo.
O levantamento foi realizado ao longo dos últimos dois anos e envolveu a aplicação de 387 questionários em propriedades produtoras de banana. Os dados cobrem uma área de quase 13 mil hectares, cerca de um terço da área total do Vale do Ribeira. Após a análise, os pesquisadores identificaram dois pontos com maior risco de entrada, envolvendo propriedades de perfis distintos. “Um destes pontos reúne 3 municípios com produtores pequenos, com pouco conhecimento da doença, situados em áreas próximas de rios, e sem uso de biossegurança. O outro polo, que apresenta um risco um pouco menor, é onde estão as propriedades mais produtivas, certificadas, e algumas inclusive exportam a banana. Ou seja, há risco alto para diferentes perfis de propriedade.”
Ana Paula destaca que os possíveis danos causados por uma contaminação pela raça 4 da doença são incalculáveis. “Não conhecemos ainda a realidade de dispersão dessa doença no Brasil mas, para começo de conversa, o fungo fica 30 anos no solo sem a cultura. Ou seja, são três décadas com aquela área comprometida.Nos países em que houve detecção de foco, a área posta em quarentena têm sido de pelo menos 1 hectare. Então, para um pequeno produtor, o impacto é enorme, além de ser caríssimo, uma vez que é necessário conter a doença enquanto se convive com os prejuízos causados pela doença.”
Além das áreas sob maior risco, os resultados apontam fragilidades significativas na adoção de medidas de biossegurança, com apenas 5% das propriedades implementando protocolos mínimos de prevenção. A expectativa da pesquisadora é que os dados possam ser utilizados para sensibilizar autoridades para a necessidade de um incremento nas políticas públicas de prevenção. “A questão da biossegurança é fundamental. Identificados esses dois polos, entendemos onde investir em ações de prevenção e vigilância. Precisamos envolver os municípios, para que cada um deles faça também sua parte, junto com o Ministério da Agricultura e com o Estado de São Paulo.”